5 de março de 2007

AG da PT: fim da OPA? (2)

A AG da PT decorreu na sexta-feira passada, a OPA acabou.

Acabou porque não houve uma maioria qualificada de 2/3 do capital presente que votasse a favor da desblindagem dos estatutos. Assim sendo, essa condição para que a OPA fosse para continuasse não existiu, e a OPA terminou naquele momento.

Com o fim da OPA, a PT continua nas mãos dos seus actuais accionistas, as práticas continuam as mesmas (mais lucro, mais dividendos, pouco investimento, pouca qualidade do serviço em diversos pontos). Embora haja aí algumas mudanças previsíveis na estrutura accionista da PT com o voto da Telefónica a favor da desblindagem dos estatutos. E também o spin-off da PT Multimédia da PT pode trazer umas mudanças no futuro, uma vez que vai passar a haver concorrência entre a PT Comunições/PT.COM e a PT Multimédia/TV Cabo.

Mas tenho medo de uma coisa: os elevados dividendos que a PT vai pagar aos seus accionistas têm que vir de algum lado: ou de maiores lucros (à custa de quê) ou de menores investimentos. Quer uma, quer a outra opção não são boas para os clientes enquanto clientes. E falo nomeadamente da qualidade do serviço.
É quando se tem que dar aos accionistas 5 ou 6 mil milhões de euros em 3 ou 4 anos e se têm
800 milhões de euros de lucros num ano, então vai ter que se cortar em algum lado, ou vender alguma coisa, o que vai acontecer com a venda da PT Multimédia. Também é preciso ver que a compra de acções próprias permite que esses dividendos sejam divididos por menos accionistas, o que permite que o total seja melhor, mas comprar acções próprias tem um custo elevado, que é o preço da sua aquisição. E também pode ir para outro lado: o aumento dos preços.

E se juntarmos o governo do Sócrates e o seu choque tecnológico, então a situação afigura-se contraditória (nada que este governo não nos tenha habituado). É que aumentar os preços e/ou reduzir o investimento e/ou menores custos (o que implicará menor qualidade, que em alguns pontos já não é da melhor) na empresa portuguesa com maior implementação tecnológica não serão a melhor forma de implementar o choque tecnológico.

Por tudo isto não gostei do fim da OPA.
Gostava de ver o Belmiro de Azevedo, o Paulo de Azevedo e a sua equipa a liderarem a PT e a alterar a estratégia, procurando uma maior satisfação dos clientes, o que não parece acontecer nas empresas do grupo PT, a julgar pelas críticas que sofrem.

Mas tenho esperança. Tenho esperança que a postura da autoridade da concorrência e da ANACOM sejam mais fortes para com o operador incumbente (PT Comunicações no fixo), por forma a que esta OPA sirva para alguma coisa para os clientes. E uma das formas era a separação do operador que gere a rede de cobre (PT Comunicações) de operadores
que prestam serviços aos clientes: é que se observam algumas situações de privilégio das empresas do grupo (PT.COM, principalmente) no caso do ADSL e prejuízo dos restantes operadores, nomeadamente os directos (Clix e Oni, principalmente). E depois há a assinatura.

Tenho dito, mas pode ser que volte a este assunto.

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