7 de agosto de 2006

Sinistralidade: prevenção e polémica

O Ministério da Administração Interna lançou recentemente uma campanha publicitária, que ainda decorre, e que tem o apoio da Galp, em que afirma que todos os anos morre um avião cheio de crianças, vítimas da velocidade nas estradas, mostrando as crianças a entrarem no avião, enchendo-o, acabando com a porta do avião a fechar-se. Todos os portugueses devem tê-lo visto.
O texto do spot, correcto e confirmado, é o seguinte: "Todos os anos cai um avião cheio
de crianças em Portugal. É este o número de crianças vítimas da velocidade nas estradas portuguesas.
Este ano ajude-nos a evitar uma tragédia, reduza a velocidade. Um conselho do
Ministério da Administração Interna e da Galp Energia".

Quando o vi, achei que era uma imagem de choque, e que era interessante, podendo vir a ter resultados, embora este tipo de anúncios tenha que ser uma constante, não se limitando a anúncios pontuais, tendo que haver uma prevenção para a cidadania.

O que este anúncio tem de blogável é a opinião que Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) e associações ligadas à aviação (sindicatos de pilotos e companhias de aviação) colocaram na praça pública, contra a campanha: os primeiros por os números serem errados, a forma não é a correcta, etc e os segundos porque dá uma imagem errada da qualidade da aviação. Sinceramente, não concordo com a opinião de cada um deles.

A PRP, pela voz do seu presidente, disse que enquanto que um avião daqueles leva 300 pessoas, o número de crianças sinistradas e que foram vítimas da velocidade nas estradas em 2005 baixou para 20 e qualquer coisa, comparativamente com os 40 e tal do ano anterior. Lembrei-me logo que a imagem mais correcta seria de um autocarro cheio de crianças, embora não pudesse ser cheio, o que talvez não causasse tanta polémica, mas talvez a imagem não fosse tão forte. Se é verdade que a imagem deva ser forte para assustar, também é verdade que não se deve fazer uma campanha de prevenção baseada na mentira. Mas quais são os números correctos? Os da PRP à volta de 30 ou os do ministério à volta de 300? O ministro voltou a afirmar que eram "centenas" as crianças sinistradas.
O presidente da PRP também afirmou que, provavelmente, a Galp, que terá organizado a campanha, não seria a empresa mais qualificada para elaborar campanhas de prevenção da sinistralidade. Por mim creio que possa não ser a mais adequada, mas pelos resultados da PRP talvez a mesma não o seja, e de qualquer forma as empresas privadas, os grupos de cidadãos e as organizações em geral estão no seu direito de elaborar acções de prevenção, como estas, ou outras. Está-me é a parecer que ficou chateado por não ter sido envolvido na campanha, mas também não sei de quem foi a ideia, se do MAI, se da Galp.

Quanto à posição, bastante semalhante, quer dos pilotos, quer das companhias de aviação, parece-me exagerada.
Não me parece que estejam a afirmar na campanha que cai um avião todos os anos em Portugal, ainda por cima cheio de crianças, apesar de poder dar essa ideia quando é dito no spot televisivo que "Em Portugal, todos os anos cai um avião cheio
de crianças.", mas também é dito logo a seguir que é "este o número de crianças vítimas da velocidade nas estradas portuguesas". Parece-me que se está a fazer uma comparação, dando a ideia que o número de crianças que morrem todos os anos vítimas da velocidade dos automóveis nas estradas portuguesas é semelhante ao número de ocupantes de um avião.

Estou certo ou errado?

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