3 de maio de 2006

Álcool e genética

Estava eu ontem (dia 2) a ir para a universidade para ter uma aula de uma disciplina da área de inteligência artificial e pus-me a pensar em alterações genéticas e redes neuronais. Mais tarde ao navegar por alguns blogs que costumo visitar (este recentemente) e encontro este artigo que aborda no primeiro parágrafo uma notícia de que investigadores americanos descobriram em pesquisas com ratos que os genes podem influenciar e estimular o consumo de álcool.

Vou voltar à questão do que estava a pensar no caminho para a universidade (por acaso era mais no caminho do carro até aos serviços académicos). Na tal disciplina da área de inteligência artificial dois assuntos abordados são, entre outros, os Algoritmos Genéticos Evolucionários, ou AGE, (sobre os quais já fiz um trabalho para essa disciplina) e as Redes Neuronais Artificiais, ou RNA, (assunto que estou a abordar num trabalho actual dessa disciplina). Tudo implementações de comportamentos ou funções de sistemas biológicos, por vezes humanos.

Aquilo em que eu estava a pensar nessa viagem era que eventualmente no futuro será possível efectuar alterações genéticas para alterar os filhos: a cor dos olhos, se o cabelo será encaracolado ou liso, loiro ou ruivo, etc. Lembrei-me na altura de duas questões que tinham que ser resolvidas para que tal fosse possível. Por um lado teria que haver conhecimento sobre as funcionalidades de cada gene, assim como das variações possíveis deste. Sem este conhecimento nada seria possível, sem haver alguns problemas, nomeadamente resultados inesperados, mesmo sabendo como fazer. Por outro lado, mesmo sabendo o que seria necessário mudar, seria necessário ter tecnologia que permitisse alterar os óvulos, os espermatozóides e/ou as ovos gerados após a ovulação. Assim sendo, como se pode constatar, para que no futuro alterações genéticas á espécie humana possam ocorrer serão necessários estes dois requisitos: havendo apenas um dos conhecimentos, ou temos conhecimento que não serve para alterar, eventualmente poderá ser usado se temos aptidão para certas doenças ou qual a cor dos olhos de uma criança (se apenas houver o primeiro conhecimento), ou temos resultados inesperados (se nos limitarmos ao segundo).

É claro e óbvio que efectuar alterações genéticas desta ordem, ou quaisquer alterações genéticas, terá problemas éticos, um semelhante a um que existente na clonagem: e se o processo falha e temos um nasce um ser humando deformado? Mas não é o único. Outros problemas são a universalidade no acesso a estes processos, pois estas alterações não serão baratas e nem toda a gente terá dinheiro para as pagar, mas este problema já existe para algumas situações (veja-se o que se passa em Portugal nas urgências). Mas haverá ainda o problema ético que já acontece actualmente com as operações plásticas, porque, no fundo, fazer alterações da cor da pele, ou do cabelo serão alterações estéticas, semelhantes às operações plásticas, mas feitas ainda antes de a pessoa nascer.

É claro que existirão certas situações em que será interessante serão as doenças, mas principalmente as deformações genéticas, que poderão ser evitadas antes de o bebé nascer. Algumas alterações para evitar doenças poderão não ser, apesar de tudo, eticamente aceitáveis.

E agora aparece o artigo que referi no início. A provar-se que a relação entre os genes e o álcool, esta poderia ser uma solução para eliminas os alcoólicos em grande parte, mas seria aceitável? As questões éticas voltariam a emergir, mas creio que já não vale voltar a debatê-las, de tanto que falei nelas.

O que tem isto a ver com a tal disciplina? Muita coisa. Nessa disciplina, os AGE correspondem a um algoritmo que tenta reproduzir a evolução das espécies: cruzamento dos cromossomas dos pais, pequenas mutações após o cruzamento, selecção dos melhores. Basicamente aquilo que Darwin e uns cientistas genéticos ajudaram a descobrir. No caso das RNA, trata-se de tentar reproduzir o funcionamento do cérebro humano, reproduzindo os neurónios e as ligações entre estes. Não tem muito a ver com o resto dos assuntos, mas fica a referência.

Ainda sobre este assunto, lembrei-me de uma cena de um filme em que uma educadora (ou mãe, ou professora, ou algo do género) dizia a uma criança que não se estava a portar bem: "Pára com isso ou altero-te os genes para..." (a frase não era bem assim, mas fica a ideia). Seria um passo na evolução do processo, um pouco mais futurista.

Em conclusão diria que, caso as alterações genéticas pudessem ser efectuadas, e aceites, e a relação entre o álcool e os genes fosse provada, assim como outras pré-disposições genéticas (comportamentos violentos, por exemplo), poderíamos evoluir mais facilmente a nossa espécie e alcançar uma melhor sociedade. A eliminação de doenças poderia ser entendida como um investimento, no fundo.

Alguém comenta? Concorde, ou não...

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