28 de setembro de 2009

O balanço eleitoral do final de noite

Terminada que está a contagem dos votos nestas eleições legislativas, está na hora de fazer um balanço eleitoral.

A primeira conclusão é simples e clara: o PS ganhou, mas com maioria relativa. No fundo disseram a José Sócrates: "vais ganhar, mas nada de maioria absoluta porque não gostámos nada de como governaste nos últimos 4 anos, no entanto não encontramos outro que mereça ganhar".
Ou seja, e essa é a segunda conclusão, o PSD acaba por perder as eleições e a não mostrar que merecia formar governo, ou seja, a Manuela Ferreira Leite perdeu.
Ainda assim, o PSD teve mais deputados do que há 4 anos, quando concorreu o então demitido Primeiro-Ministro Santana Lopes. Foi a pequena vitória do PSD no seu resultado, sendo a outra pequena vitória a não vitória por maioria absoluta do PS de José Sócrates.

O BE subiu bastante face a 2005, ganhando peso relativo (passou de 5ª força política com 6,4% a 4ª com 9,9%) e peso absoluto (duplicou o número de deputados, que passou de 8 para 16). A nível percentual a subida não foi tão elevada como em número de deputados, o que se explica pelo sistema eleitoral em vigor.
Comparando com o que se poderia esperar do BE face ao que tínhamos observado no último ano, a começar pelo resultado das europeias, perderam algum peso. O porquê disso é uma boa pergunta. Será que disseram ao BE que não os querem como governo? Será apenas por causa do sistema eleitoral? Será apenas por causa do "cartão amarelo" ao governo dado nessas eleições?

O CDS foi um partido que também ganhou bastante nestas eleições, ao subir de 12 para 21 deputados, passando a ser a 3ª força política, e atingindo os chamados "2 dígitos", com 10,5% dos votos.
A subida não é tão elevado em termos comparativos com 2005 como o BE que subiu de 6,4% para 9,9 (subida relativa de 54% de votantes percentuais), quando o CDS subiu de 7,3% para 10,5 (subida de 44% de votantes percentuais), mas o passado recente, quer pelas sondagens, quer pelas europeias, não levava a crer que seriam a terceira força política resultante destas eleições.

A eterna coligação PCP-PEV, ou seja, e para facilitar, o PCP foi um dos "derrotados da noite" (entre aspas porque os balanços de todos os partidos foi que todos ganharam). É verdade que conseguiram ganhar um deputado, mas perderam força relativa (passaram de 3ª para 5ª força política, os únicos entre os 5 partidos mais importantes que perderam força relativa), para além de votos (os únicos para além do PS), no entanto, e tal como em deputados, tiveram maior percentagem de votantes).
Perderam força relativa, mas ganharam peso (deputados) no parlamento.


O cenário de número de deputados, antes dos eleitos pelos círculos eleitorais da Europa e Fora da Europa, é este: 96 do PS, 78 do PSD, 21 do CDS, 16 do BE e 15 do PCP. Com os deputados por eleger, o PS deve ficar com 98 (97 a 99) e PSD com 80 (79 a 91). Como curiosidade temos que o PS ficará com menos deputados do que PSD e CDS juntos, ou seja, no caso de se terem coligado seria altamente provável que viessem a formar governo e tivessem ganho hoje.

Face a este cenário, temos 3 cenários de governo possíveis: PS governa sozinho (98 em 230 deputados), PS coliga-se com PSD (178 em 230) ou PS coliga-se com CDS (119 em 230).
De entre estes 3 cenários os mais verosímeis são PS sozinho ou PS+CDS, mas o que deve ficar é mesmo um PS a governar sozinho, com maioria relativa no parlamento, coligando-se proposta a proposta com os outros partidos no parlamento.
Este é o cenário mais verosímil, mas também o que leva a uma maior instabilidade governativa. E este é o ponto mais importante desta análise, porque o futuro de Portugal vai depender enormemente da forma como o PS gerir as "coligações ad-hoc" no parlamento. Não será de excluir o governo cair por causa de uma moção de censura ao governo que seja aprovada por toda a oposição, mas também não será de rejeitar que este governo seja demitido após uma iniciativa presidencial exclusiva. Fala-se que o governo poderá cair daqui a 2 anos, até porque o intervalo em que o presidente pode actuar é relativamente curto.

Quanto aos pequenos partidos, em função do resultado das europeias, era possível que o MEP, ou outro partido, conseguissem eleger um deputado. Aliás, se os resultados das europeias fossem os das legislativas, então o MEP teria conquistado 1 deputado. A verdade é que não o conseguiu, e quem ficou mais perto de o conseguir até foi o PCTP/MRPP. Ainda assim, só com mais do dobro dos seus votantes em Lisboa, onde terá ficado mais perto de eleger um deputado, é que conseguiria ter elegido um. Simulando de outra forma, se as percentagens de todos os partidos fossem estas, só com 104 deputados a eleger por Lisboa (contra os 47 eleitos) é que o PCTP/MRPP elegeria um deputado. Os resultados em Lisboa com a aplicação do método de Hondt estão em http://icon.cat/util/elections/BTuUEfFDbj, e pode-se fazer algumas simulações.
A proliferação de pequenos partidos não terá sido benéfica para estes.


Mas a análise a estes resultados também tem que passar pelo que aconteceu com as sondagens. Ao contrário do que se passou nas recentes eleições europeias, as sondagens pré-eleitorais acertaram praticamente com os resultados finais, eventualmente tendo ficado dentro da margem de erro, que não é divulgada na compilação citada (clique para ver a imagem).
Olhando também para as projecções, e pegando no caso da RTP mas para as restantes as projecções eram semelhantes, esta ficou praticamente dentro da margem de erro, falhando apenas no caso do PSD por 0,9%.
Ainda assim, é de notar a diferença entre as sondagens e as projecções para o CDS, o que se torna um fenómeno interessante para estudar. Curiosamente, foram as sondagens por telefone que mais se aproximaram do resultado do CDS.


Já agora, uma pequena nota para o resultado do meu distrito, Viana do Castelo, onde o número de deputados manteve-se face a 2005, mas em que PS perdeu fortemente em votantes, percentualmente, (à semelhança do que aconteceu a nível nacional), o PSD perdeu ligeiramente, e com BE e CDS a ganhar votos (também à semelhança do que aconteceu a nível nacional).

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